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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A crença do não merecimento e o não receber...

Imagine que você adota um cãozinho vira lata que vivia na rua, bem magrinho e cheio de pulga. Você o leva para a sua casa, alimenta com a melhor ração, dá banho, trata, leva ao veterinário e o enche de carinho. Será que esse cãozinho iria pensar “eu não mereço nada disso, meus amigos na rua passando fome e eu aqui com esse luxo todo...”. Imagine tudo isso sendo falado em um tom dramático de culpa e “humildade”. E assim ele começa a se sabotar. Não come mais a ração e pede para o dono comprar outra mais baratinha. Diz também que não precisa de tanto assim. Pra que tanto conforto? E os colegas da rua que não tem nada disso? E o que ele fez para merecer tudo de bom? Por que outros não tem acesso as mesmas coisas que ele?
É claro que um cachorro jamais agiria dessa forma. Ele apenas aceita e aproveita tudo que lhe é ofertado, sem medo nem culpa. O animal não precisa de razões para justificar ter uma vida boa ou uma vida melhor do que os outros. O simples fato de existir já é motivo o suficiente para que ele possa receber tudo que é bom.
Já nós, seres humanos, temos uma tendência de precisar encontrar motivos lógicos que justifiquem as coisas que temos ou ganhamos: só me sinto confortável em ter muito se eu trabalhar muito, só consigo me sentir bem em ter uma vida boa se eu disser que passei muitos anos estudando e trabalhando para conquistar esse resultado, se eu não me sacrifico não me sinto no direito as melhores coisas, só posso me permito cobrar um preço mais alto se eu estudar tantos anos a mais.
Quando a criança nasce, ela não questiona se merece ou não o que recebe. No entanto, quando a mente vai desenvolvendo e torna a estrutura do ego mais complexa, a mente começa a comparar, julgar e vão surgindo, em uma idade ainda muito tenra, os pensamentos de não merecimento e culpa.
Inicialmente a criança vai se comparar com os irmãos, observando se eles tem mais ou menos, se são felizes ou infelizes. Irá também começar a observar o sofrimentos dos pais. E conforme for a situação familiar, quanto maior for o sofrimento, maior a tendência de se desenvolver sentimentos de culpa em ser feliz, culpa em ter, culpa em receber.
Ao crescer um pouco mais, a criança irá também começar a ter contato com as pessoas do mundo exterior e seus sofrimentos, o que poderá alimentar ainda mais a sensação de culpa e não merecimento em ter uma vida melhor do que a média.
Outros fatores também podem contribuir para o desenvolvimento do padrão do não merecimento. Uma infância pobre onde não foi permitida que a criança tivesse necessidades básicas plenamente satisfeitas (alimentação, roupas e etc, e outras coisas menos básicas também como brinquedos, passeios, diversão) podem ser também bastante prejudiciais. De tanto ouvir: Não pode, não temos, não dá, não é pra você, não é para nós (e as vezes até ‘quem você pensa que é pra querer isso ou aquilo, pensa que é melhor que os outros, pensa que é rico?’) a criança vai internalizando cada vez mais que ela não pode e não merece acesso a certas coisas consideradas melhores na vida.
Com a mente condicionada dessa forma, a pessoa pode acabar deixando de ir em busca de coisas melhores que poderiam trazer uma vida mais confortável e abundante, pois ela simplesmente pensa que isso não é para ela.
Atendi certa vez uma mulher com um intenso sentimento de não conseguir receber. Por ter um problema de saúde que exigia um gasto considerável, foi entregue para ser criada muito pequena por uma tia que tinha melhores condições. Recebeu os cuidados materiais necessários, mas a parte emocional ficou muito prejudicada. Ouvia sempre a tia falar sobre os gastos necessários para mantê-la, alem de outras situações emocionalmente bem desagradáveis. Assim ela foi desenvolvendo a sensação de se sentir um peso. Receber tudo aquilo tinha um preço bem alto. Uma parte do preço foi ter ficado afastada da família, o que na sua percepção a privou de uma criação com mais afetividade. A outra parte do preço foi ter desenvolvido o sentimento de culpa e uma sensação de ter uma dívida impagável com a tia.
Dessa forma, ela começou a sentir que receber algo era é o mesmo que ficar devendo. Como se tudo tivesse um preço muito alto. Sempre que recebia algo, tinha que retribuir na hora para aliviar o desconforto e não ficar devendo. Evitava receber qualquer coisa. Imagine os prejuízos que esse padrão pode causar nos relacionamentos e na vida profissional de alguém.
Avalie si próprio. Sente dificuldade em receber presentes? Precisa presentear ou fazer algo de volta pela pessoa para ficar em paz? Consegue receber elogios de forma natural ou precisa minimizá-los ou retribuí-los na mesma hora? Quando há uma possibilidade de ganhar algo de bom (um sorteio, uma promoção no trabalho, uma viagem...) tem uma tendência de deixar para outras pessoas ou você também quer ganhar e aproveitar? Se você conquista uma situação melhor (maior salário, vida mais confortável) precisa justificar pra você mesmo ou para os outros o tanto que você trabalhou para conquistar aquilo? Quando adquire algum bem (carro, casa, roupas) você precisa pensar e justificar para você mesmo ou para os outros que esforçou bastante para ficar se sentindo bem com o que adquiriu? Se algo vier muito fácil, você aceita e usufrui tranquilamente, ou aproveita mas com sentimento de culpa?
Existe ainda a crença do merecimento ligada a questões espiritualistas e religiosas. “Fulano não teve o merecimento para se curar de tal doença”. “Eu não tive o merecimento para sair da situação financeira difícil que vem desde a infância.” “Se for do merecimento de fulano, ele irá conseguir”. “Se você não saiu ainda dessa situação é porque não é do seu merecimento”. Fica simples demais justificar dessa forma. Desenvolve-se um sentimento de que, se tem algo negativo na sua vida, é porque essa pessoa “merece” passar por aquilo, até quando ninguém sabe. Por muitas vezes isso acaba gerando uma perpetuação do sofrimento por auto punição. As vezes as pessoas se tornam passivas e deixam de compreender mais profundamente as razões daquele sofrimento, perdendo também a chance transformar aquela realidade.
Deveríamos aproveitar o exemplo da natureza, dos animais e das plantas, que não questionam nem justificam se merecem algo ou não. Eles sempre aproveitam a abundancia quando esta chega até eles. E quando passam por dificuldades fazem o melhor que podem para sair delas, sem preocupar ou sentir culpa se fizeram ou deixaram de fazer algo para passar por aquilo.
Declare-se merecedor, e vá em busca do que você deseja. Seja persistente pois não temos como saber quando iremos alcançar a solução. Se a solução vier rápida e facilmente, aceite e aproveite. Não compre o titulo que alguém tente lhe passar de ‘não merecedor’ pois isso acaba apenas criando passividade e culpa. Acredito que todos nós, de forma consciente ou inconsciente demos causa ao nosso sofrimento, ou atraímos ou pelo menos contribuímos para ele. Ainda assim, mesmo sendo nossa responsabilidade, todos nós merecemos nos libertar do sofrimento. André Lima - EFT 

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