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sábado, 23 de dezembro de 2017

Natal e um poema...


"...Quando a gente ouve uma história que nos comove, ela entra dentro da gente, faz a gente rir, faz a gente chorar, faz a gente amar, entra dentro da gente e se aloja no coração. A História do Natal é assim, muito simples: Um menininho que nasceu em meio aos bois, vacas, ovelhas, cavalos, jumentos... Era um menininho pobre. Mas diz a história que quando ele nasceu aconteceu uma mágica com o mundo: as árvores se cobriram de vaga-lumes, as estrelas brilharam com um brilho mais forte, e até uns reis deixaram os seus palácios e foram ver o nenezinho. A visão do menininho os transformou.
Os adultos, que ao falar sobre Deus, imaginam um ser muito grande, muito poderoso, muito terrível, ameaçador, sempre a vigiar o que fazemos para castigar depois. Pois o Natal diz que isso é mentira. Deus é menino. Ele está muito mais próximo de nós. E foi ele que, depois de crescido, disse que para estar com Deus bastava voltar a ser criança. 
Na noite do Natal, antes de abrir os presentes, antes de começar a comedoria, peça para alguém lhe contar a história do menininho...
E, se ninguém souber contar, leiam esse poema sobre o Menino Jesus, escrito por um poeta que queria ser menino."

Tive um sonho. 
Vi Jesus Cristo descer à terra.
E era outra vez menino.
A correr e a rolar-se pela erva
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu.
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje ele vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Brinca nas poças de água,
Colhe flores...
Rouba fruta dos pomares...
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas...

Ele mora comigo na minha casa.
Ele é a Eterna Criança, o Deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei, com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
Criança tão humana que é divina.
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E é por isso que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver.
Saltando, cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
Vivemos juntos os dois,
Com um acordo íntimo.
Ao anoitecer brincamos com as cinco pedrinhas,
No degrau da porta de casa.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível...

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos...
Sorri para o meu sono.

Quando eu morrer, menino,
Seja eu a criança, 
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que eu nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus...

Alberto Caeiro

Desejo a todos um Feliz Natal 
E que a criança que te habita esteja sempre viva, com os olhos atentos, 
cheia de vontade de viver! 


4 comentários :

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